01/09/2016 — O noticiário, exibido pela Rede Globo em horário nobre e assistido diariamente por 31 milhões de brasileiros, é campeão de audiência desde que 0 primeiro apresentador, Hilton G0mes, leu a primeira notícia no ar, há 47 anos. O Jornal Nacional é uma história de sucesso sem paralelo entre os telejornais brasileiros. Quando se compara a sua audiência com a de programas semelhantes levados ao ar em outros países democráticos, o JN sobressai como um dos programas jornalísticos, proporcionalmente mais vistos. Ele mantém sintonizados em seus apresentadores 68% dos televisores. Para efeito de comparação, o jornal francês da rede TF 1 tem 46%. Como costuma ocorrer com quase todo líder, as polêmicas acompanham a trajetória do Jornal Nacional.
Em momentos cruciais da história recente do Brasil a cobertura do JN provocou críticas. Dois episódios em particular foram examinados à minúcia e livros chegaram a ser escritos sobre eles. Um foi a cobertura da campanha pelas eleições diretas em 1984, quando se acusou o noticiário de esconder as manifestações que tomavam de assalto as praças do país. O outro foi a edição do último debate entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, na véspera das eleições presidenciais de 1989. Na ocasião, o Jornal Nacional foi acusado de favorecer o candidato do PRN com uma montagem tendenciosa. Por muito tempo esses episódios foram tabus na Globo. Deixou de ser em 2004, com a publicação do livro “Jornal Nacional — A Notícia Faz História”, elaborado por um time de historiadores contratados pela emissora.
A Globo fez a sua própria investigação e deu a sua versão dos fatos. Na obra, a emissora admite erros cometidos e esclarece esses e outros fatos da história do seu principal telejornal. A obra chegou às livrarias como parte das comemorações dos 35 anos do Jornal Nacional. O volume é um relato correto sobre o interrelacionamento do telejornalismo com a história recente do Brasil, temperado por fatos pitorescos. No episódio das diretas já, a campanha cívica que mobilizou o país nos momentos finais do regime militar em 1984, a Globo sempre teve de se defender da acusação de não ter noticiado o megacomício da Praça da Sé, em São Paulo, em 25 de janeiro de 1984. O livro prova que o evento foi noticiado.
O repórter Ernesto Paglia estava lá e relatou, no Jornal Nacional, como milhões de pessoas haviam se reunido para pedir eleições diretas. As imagens da reportagem mostram vários dos participantes do comício, como o então governador de São Paulo, Franco Montoro. O livro admite, porém, que a maneira como a matéria foi levada ao ar ensejou a versão de que o comício não fora coberto pelas equipes da emissora. A outra polêmica, certamente a maior da história do JN, diz respeito à edição do último debate da eleição presidencial de 1989. O livro dedica quinze páginas ao assunto. O debate ocorreu em 14 de dezembro, três dias antes das eleições. Na sexta-feira, dia 15, o Jornal Hoje exibiu uma edição do debate e o Jornal Nacional mostrou outra. A emissora foi criticada, entre outras coisas, por Collor aparecer por um minuto e meio a mais que Lula.
De qualquer forma, o jornal jamais perdeu a liderança da audiência. A média de janeiro a agosto de 2004 foi de 43 pontos, a maio desde 1997. Em decorrência disso, tinha o espaço publicitário mais caro da televisão brasileira. Um comercial de trinta segundos custava de R$ 250 mil a 380 mil. Naquele ano, o faturamento do jornal rendeu à Globo R$ 780 milhões. Se fosse uma pessoa jurídica, o JN se situaria por volta do 350.º lugar no ranking brasileiro das maiores. Essa arrecadação possibilitava o pagamento de salário de diretor de multinacional aos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes: R$ 70 mil e R$ 60 mil mensais, respectivamente. Além disso, o jornal mobilizava um exército de 600 profissionais dedicados exclusivamente ao programa. Todos os quatro mil jornalistas da Rede Globo são, no entanto, potenciais colaboradores.
Texto extraído da matéria assinada pelo jornalista João Gabriel de Lima, publicada na revista VEJA de 01/09/2014.