25 de outubro de 2012
A dois capítulos do final, nesta sexta, pouco restou de Jorge Amado na nova novela Gabriela. Uma adaptação pressupõe acréscimos e mudanças no enredo original, mas na reta final, segundo a crítica, o autor Walcyr Carrasco optou por caminhos mais folhetinescos do que o romance do escritor baiano poderia suportar. “O que há com a Gabriela de Juliana Paes não é culpa de Juliana Paes, que a interpreta graciosamente”, escreveu a revista Veja.
É que o episódio da traição a Nacib (Humberto Martins), de acordo com a publicação, importante para definir o “jeito de ser Gabriela”, foi reduzido a uma consequência de uma tramoia planejada por Zarolha (Leona Cavalli), esta transformada em uma vilã típica de novela, capaz de tudo para ter o homem que a desprezou.
Assim, como uma mulher que mais é empurrada para a cama do que parece ir por vontade própria, a personagem se torna vítima. E não tem as sutilezas que ajudaram a compor a figura libertária interpretada por Sônia Braga em 1975 e 1983, na novela de Walther George Durst e no filme de Bruno Barreto. Entre a ingenuidade e a safadeza, Gabriela é uma mulher que gosta de homem pura e simplesmente, não apenas de Nacib. Numa das passagens do livro, ela chega a fantasiar que está com vários outros “moços bonitos”quando faz sexo com ele. Mas a Gabriela da novela precisou, como típica mocinha, ser enganada por uma vilã para cair nos braços de Tonico Bastos (Marcelo Serrado).
É uma leitura folhetinesca, da mesma forma que a trajetória da vilã, quenga arrependida que se casou no capítulo de sexta vestida de branco. É um desfecho que mais deve ter a ver com a simpatia do público pela personagem e atuação de Leona Cavalli do que com a coerência. Zarolha, personagem que mal existe no livro, poderia deixar essa coisa de amor romântico e substituir Maria Machadão (Ivete Sangalo) como cafetina do Bataclan, já que até a quenga mais poderosa de Ilhéus quer terminar os dias como sinhá. Mas, no fim das contas, de Jerusa (Luiza Valdetaro) a Zarolha, de Gabriela a Malvina (Vanessa Giácomo), quase tudo se resume à idealização do amor, como numa novela das 18 horas.