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Categoria: Escritores Brasileiros
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01Gregório

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA nasceu no dia 23 de dezembro de 1636, na cidade de Salvador, Estado da Bahia. Morreu no dia 26 de novembro de 1696 na cidade do Recife, Estado de Pernambuco. Apelidado de o “Boca do Inferno”, era filho de um fidalgo português e de uma baiana de família conceituada. Depois de frequentar o colégio dos jesuítas em Salvador, seguiu para a cidade de Coimbra em Portugal em 1653, onde estudou Ciências Jurídicas. Depois de formado, instalou banca de advogado na cidade de Lisboa.

Após uma breve estada no Brasil em 1622, voltou para Portugal, com a nomeação para o cargo de curador de órfãos e juiz de crimes. Em 1681, desgostoso, voltou para a cidade natal. Foi nomeado, então, para alguns cargos no arcebispado da Bahia. Recusando-se a receber as ordens sacras, perdeu os cargos com a morte do arcebispo, o protetor. A seguir, envolveu-se num crime e fugiu. Capturado, acabou sendo degredado em Angola na África. Depois de cumprir a pena, regressou ao Brasil e foi residir em Pernambuco. O governador local o recebeu muito bem, mas recomendou-lhe que não fizesse mais versos satíricos. Prometeu, mas não cumpriu.

Abrigado por amigos, morreu de modo miserável no Recife. A carreira literária dele é de difícil reconstituição cronológica, pois, na época, as poesias circulavam manuscritas, já que a imprensa era proibida no Brasil. Dificilmente, pode-se ter segurança a respeito das inúmeras obras que lhe são atribuídas. Na Biblioteca Municipal de São Paulo há uma cópia datilografada de versos pornográficos a ele atribuídos, sob o título de “Sátiras Sotádicas de Gregório de Matos”. Considerado o poeta do século, sofreu marcada influência dos poetas barrocos espanhóis, os quais procurou imitar. No entanto, isso perdeu a importância diante do sentido nacionalista da poesia dele. Ao que parece, teve uma fase intensamente satírica. Seguiram-se os períodos lírico, profano e religioso. É o patrono da cadeira número 16 da Academia Brasileira de Letras.

Soneto

Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos

Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.

Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:

Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.